"Luz de Abril, Portugal, 1974", com 38 fotografias de Alécio de Andrade (1938-2003) que registram a Revolução dos Cravos em curso no país europeu. O grande fotógrafo, radicado em Paris desde 1964, percorre Portugal "com sua Leica pendurada no pescoço", como descreve o historiador francês Yves Léonard (1961), no livro homônimo que será lançado na exposição. "Passeando seu olhar sobre o Portugal da Revolução dos Cravos, Alécio de Andrade captou instintivamente a imagem de um povo há muito habituado às maiores misérias, infinitamente resiliente, exemplar à sua maneira. Um povo cujos olhares e sorrisos são ainda mais desarmantes por se oferecerem com reserva. Um Portugal à altura dessas mulheres e desses homens captados com empatia em seu cotidiano, na esquina de uma rua, num campo ou num desfile", escreve o historiador. A idealização do projeto é de Patricia Newcomer, viúva de Alécio de Andrade. A impressão das fotografias preto e branco é de TOROSLAB, que sempre trabalhou com o fotógrafo. As fotografias coloridas foram impressas por Christophe Pete, JANVIER.
Na exposição, as legendas das fotografias são de Yves Léonard, a partir de anotações do próprio Alécio, que voltou a Portugal em 1974 no outono, e mais uma vez em 1975. Alguns exemplos são: "O homem dos pés de vento"; "Alegre acolhida aos retornados da África, para aqueles que têm a sorte de ser esperados. Porto de Lisboa, verão de 1974"; "Peregrinação a Fátima, outubro de 1974"; "Manifestação pela independência da Guiné-Bissau: 'Abaixo o neocolonialismo.' Praça do Rossio em Lisboa, verão de 1974"; "José Celso (Zé Celso) Martinez Corrêa, escritor, ator e diretor de teatro brasileiro, no encontro do Partido Socialista Português em Lisboa, Pavilhão dos Desportos, outubro de 1974".

Alécio de Andrade prima na arte de detectar o inusitado sob a aparente uniformidade, como vários críticos já observaram. Henri Cartier-Bresson não deixou de sagrar o jovem carioca, que se reconhece plenamente naquele designado então como o arauto do instante decisivo, o mestre inconteste do preto e branco, sem retoques ou flash, nem se quer reenquadramento", salienta Yves Léonard. Ele afirma ainda que "Alécio também se revelaum 'mestre do instante' com a foto, tirada no Louvre em 1970, em que três freiras admiram 'As Três Graças', de Jean-Baptiste Regnault. Foto reproduzida em forma de cartão postal de que se venderam mais de duzentos mil exemplares. Como uma homenagem brincalhona, Alécio também imortaliza Cartier-Bresson fotografando, em 1972, a Fête del'Humanité em Paris ".Além dos registros feitos nas ruas de Portugal, Alécio de Andrade" buscando canalizar os fluxos de pessoase acontecimentos, acaba por desvelar o insólito". "Por exemplo, o General Spínola, de férias na estação termal de Buçaco, em meados de agosto de 1974,sem uniforme militar, quase em traje de dândi, sem afetação nem sua arrogância habitual". A exposição marca o lançamento do livro "Luz de Abril, Portugal, 1974" (EdiçõesPinakotheke, 2025), com 55 fotografias em p&b e cor de Alécio de Andrade ,e texto dohistoriador francês Yves Léonard.