TUDO JUNTO E MISTURADO OU

A TREPIDANTE DÉCADA DE 1960

TUDO JUNTO E MISTURADO OU A TREPIDANTE DÉCADA DE 1960

O Brasil passava por grandes transformações e o Rio de Janeiro era o centro das atenções, pois se comemoravam os quatrocentos anos de fundação da cidade, e grandes eventos e manifestações estavam previstas.

No trepidante ano de 1965, os artistas e intelectuais manifestavam-se de forma contundente. Neste contexto festivo e, ao mesmo tempo, efervescente, a crítica de arte Ceres Franco e o marchand Jean Boghici, em uma viagem de avião entre Ibiza e Barcelona, resolvem apresentar no Rio de Janeiro uma exposição reunindo os artistas brasileiros ligados á Nova Figuração e os artistas estrangeiros associados á Figuração Narrativa da Escola de Paris. 

“Achei que podia ser uma ligação muito boa, uma incerteza política e também o nascimento de um outro tipo de pintura”, disse Boghici. O título da exposição, segundo os idealizadores, foi extraído do espetáculo Opinião. Propõe-se a ideia a Carmen Portinho, então diretora executiva do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, que a acolheu com muita simpatia. Assim, abriu-se a mostra no dia 12 de agosto de 1965.

Max Perlingeiro

ANTONIO DIAS (1944-2018)

“A pequena prostituta”, 1962
óleo e gesso sobre aglomerado
49,5 x 40 cm

Mario Pedrosa, Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 29 de outubro de 1967

ANTONIO DIAS (1944-2018)

The Illustration of art; Uncovering the Cover-Up, 1973
serigrafia e acrílica sobre tela
91,0 x 134,0 cm

JOSÉ ROBERTO AGUILAR  (1941)

A Mulher Brasileira, 1980
acrílica sobre tela
101,0 x 116,0 cm

VILMA PASQUALINI (1930-2012)

Meninas na janela, 1965
óleo sobre madeira
114 x 83 cm

CARLOS VERGARA (1941)

Série 5 problemas/5
Estampas, 1967
serigrafia sobre papel
46,5 x 31,3 cm

Os artistas e intelectuais manifestavam-se de forma contundente. O show Opinião, dirigido por Augusto Boal, tendo no elenco Nara Leão, substituída por Maria Bethânia, João do Vale e Zé Keti, foi um musical que intercalava música e texto, em contraponto ao regime militar vigente no país.

HÉLIO OITICICA (1937-1980)

Romero veste capa 25 P32 (parangolé), 1972
cópia fotográfica a partir de slide 35mm
11,5 x 8,0 cm

ESTUDO PARA PARANGOLÉ (Capa 4)

O tom dissonante, e, ao mesmo tempo, o destaque da exposição, foi a apresentação, pela primeira vez, do Parangolé – coletivo do jovem artista Héio Oiticica. Este leva a escola de samba Mangueira para dentro do museu, vestindo “capas” ou portando estandartes e tendas. O fato causou grande indignação aos dirigentes do museu, que expulsaram o artista e seus companheiros. Eles foram, então, se apresentar nos jardins, com a participação de todos os presentes. 

Rubens Gerchman descreve o acontecimento: “Foi a primeira vez que o povo entrou no museu. Ninguém sabia se Oiticica era gênio ou louco e, de repente, eu fiquei maravilhado. Ele entrou pelo museu adentro com o pessoal da Mangueira e fomos atrás. Quiseram expulsá-lo e ele respondeu com palavrões, gritando para todo mundo ouvir: ‘É isto mesmo, crioulo não entra no MAM; isto é racismo’”

Texto catálogo “Opinião 65: 50 anos”, Edições Pinakotheke, 2015

WESLEY DUKE LEE (1931-2010)

Sem título, 1960
aquarela e nanquim sobre papel
32 x 61 cm

Literatura: The Emerging Decade: Latin American Painters and Paintings in the 1960’s, The Solomon R. Guggenheim Museum, 2011, pág. 24 rep.

WESLEY DUKE LEE (1931-2010)

“A Vida como ela é…”, 1967
aquarela, nanquim e grafite sobre papel
23,5 x 33,5 cm

RUBENS GERCHMAN (1942-2008)

Hermafrodit Belt [MENWOMEN], 1971
caixa de acrílico e metal
9,0 x 35,0 x 16,0 cm

Literatura: MAGALHÃES, Fábio. “Rubens Gerchman”, Coleção Arte de Bolso. Lazuli Editora, pág. 25 rep.

Nos Estados Unidos procurei explorar as possibilidades da língua inglesa, suas ambiguidades. Por exemplo, na obra MENWOMEN (homensmulheres) a intenção era fazer uma cerca contínua, sem fim — MENWOMENSOMENWOMEN… — com dobradiças, como uma espécie de biombo. As letras “wo” também significam “rib”, costela, e dava a conotação bíblica à palavra. Soube ainda que em inglês arcaico o mesmo som “wo” significava também a melodia de encantamento que o macho usava para atrair a fêmea.”  

RUBENS GERCHMAN

RUBENS GERCHMAN (1942-2008)

ABC, 1973
óleo sobre tela
120 x 120 cm

Literatura: Catálogo da exposição “Rubens Gerchman”, Museu de arte Moderna do Rio de Janeiro, 1973, Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, 1974

RUBENS GERCHMAN (1942-2008)

Time do Palmeiras, 1965
nanquim, aquarela e grafite sobre papel
34,5 x 53,0 cm

“Com efeito, era primeira vez depois do Golpe Militar que um grupo de artistas se reunia para opinar, com suas obras, sobre a nova situação política brasileira. […] E mesmo alguns trabalhos fortes, centrados numa temática social, estimulavam por analogia visual leituras políticas, caso, por exemplo, de “Palmeiras x Flamengo”, de Gerchman […]. Nele a imagem tradicional dos jogadores de futebol antes do início do jogo remete à quase corriqueira nos anos da ditadura militar, mostrando grupos de ativistas políticos brasileiros sendo trocados por embaixadores sequestrados. Mas se tratava também de opinar sobre o estado de nossa criatividade plástica e confrontá-la com a produção de artistas vindos de Paris. Os de lá, como os daqui, eram igualmente preocupados em dar um novo sentido e uma nova função à imagem.

FREDERICO BORGES

RUBENS GERCHMAN (1942-2008)

So’, 1967
óleo, arma de plástico e alumínio sobre tela
55,5 x 50,0 x 5,0 cm

MAURICIO NOGUEIRA LIMA (1930-1999)

Marilyn Monroe, 1969
tinta automotiva sobre eucatex
60,0 x 60,0 x 2,0 cm

NELSON LEIRNER (1932)

Baralho, circa 1980/1982
pintura carta de baralho
47,0 x 104,0 cm

ROBERTO MAGALHÃES (1940)

Sem título, 1966
aquarela sobre tela
28 x 38 cm

ROBERTO MAGALHÃES (1940)

Sem título, 1965
aquarela sobre papel
30 x 44 cm

ROBERTO MAGALHÃES (1940)

Sem título, 1966
aquarela e grafite sobre papel
29 x 39 cm

ROBERTO MAGALHÃES (1940)

Sem título, 1965
óleo sobre tela
37,5 x 45,5 cm

“(Opinião 65) É uma exposição de ruptura. Ruptura com uma arte do passado (…). A jovem pintura pretende ser independente, polêmica, inventiva, denunciadora, crítica, social e moral. Ela se inspira tanto na natureza urbana imediata quanto na própria vida com seu culto diário de mitos”. 

CERES FRANCO